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Arquitetos: Hugo Ferreira Arquitectos, Nuno de Melo e Sousa; Nuno de Melo e Sousa, Hugo Ferreira Arquitectos
- Área: 300 m²
- Ano: 2016
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Fotografias:José Campos
Descrição enviada pela equipe de projeto. Um edifício situado na Calçada da Serra em Vila Nova de Gaia, local privilegiado, na sua relação com a ponte D.Luís I, com o rio, com a vista do casario e da zona ribeirinha do Porto, num enquadramento paisagístico único que nos leva até à foz do Douro e ao horizonte.
Construir nesta zona de tamanho legado e carácter histórico é um processo delicado, de reflexão e que impõe condicionantes muito fortes.
Aquando a primeira visita ao terreno, deparamo-nos com uma construção existente fustigada pelo abandono, com características do sec XIX mas com alterações posteriores, que teria de se adaptar a um novo programa. Nos 3 pisos, 13.80m por 7.20m, era necessário organizar seis habitações independentes de uso flexível, uma recepção, um escritório, zonas técnicas e áreas de uso comum.
Dadas as condicionantes e a debilidade do edifício, mantiveram-se as paredes perimetrais de alvernaria de granito e implantou-se uma bateria central no eixo longitudinal, que resolve o programa do edifício e a circulação do mesmo. Nesse bloco de betão à vista instalam-se casas de banho, cozinhas, coretes, negativos para tubagens, iluminação e o ascensor. O edifício existente passou a dividir-se em dois, ou melhor em seis, em lotes à moda do Porto - 13.80x3.00m-, e a vista passou a ser longitudinal: o pátio do logradouro versus a ponte D.Luis e ribeira do Porto. A cércea do vizinho, permitiu encaixar mais um piso, "o novo" em soletos de ardósia. A escada, essa, teve de ficar de fora; alinhada pela espinha de betão, unindo todos os pisos, pousando em todas as cotas exteriores que se mantiverem surpreendentemente quase iguais às existentes.
- O piso 0 articula pela cota da rua a zona de recepção, espaço para refeições, sanitários comuns, escritório e arrumo.
- Os pisos 1 e 2 são constituídos por quatro habitações autônomas entre si, com instalações sanitárias e kitchenettes próprias.
- O piso 3 é o módulo de excepção, compreendendo em si uma habitação, dotada de dois quartos e uma zona de estar mais ampla.
A escassez de luz proveniente da múltipla compartimentação do “miolo” e a cota superior do logradouro levaram à procura de uma solução que libertasse a cota de entrada do edifício (0.00), aumentando a ventilação transversal e iluminação do interior na zona pública.
Surge um conjunto de pátios que vão resolvendo a diferença de cotas, espaços mais comuns e espaços mais privados, entrelaçando a vivência do edifício entre o maciço de granito existente escavado, a estrutura da caixa de escadas exterior, o morro de betão e a Ponte.
A proposta é então tratada através do corte longitudinal, nas relações que a reconstituição da cota do logradouro traria à vivência interior do edifício. A escavação do logradouro apresenta-se assim como uma premissa forte do projeto. A esta junta-se a escada - à semelhança do que acontecia no edifício existente, no qual o acesso ao logradouro era feito através de várias escadas - sendo o programa demasiado exigente e denso para aguentar a área exigida pelo acesso. Deste modo, cria-se uma escultura, axialmente alinhada pela estrutura interior que simultaneamente é peça central do projeto, resolvendo as questões programáticas da kitchenette, sanitários e arrumos dos quartos e espaços comuns. É esta peça que compõe o interior do edifício, partindo-o em dois grandes espaços esguios, retirando elementos que pudessem obstruir a passagem de luz, criando mais liberdade de ocupação e movimentos, potencializando as fenestrações das fachadas da Rua e tardoz.